Os SEDIMENTOS são materiais sólidos e semi-flúidos depositados no leito dos lagos e reservatórios graças ao carreamento pelas enxurradas (de areia, silte e argila) da bacia de contribuição; pela deposição de matéria orgânica em decomposição (originada na bacia ou na própria água); ou por outro meio.
A dinâmica dos sedimentos compreende 3 fases em sequência:
a) o arraste de partículas ou decomposição
de seres vivos;
b) a sedimentação desses materiais ou a precipitação de elementos; e
c) o acúmulo, deposição
ou armazenagem dos mesmos no leito dos lagos e reservatórios.
As principais ligações ou interfaces dos sedimentos com os lagos e reservatórios são as seguintes:
Segundo o Guia de Avaliação de Assoreamento de Reservatórios da Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL (Newton O. Carvalho, Brasília, 132 p., 2000), em relação ao aspecto sedimentológico, as barragens geram uma redução das velocidades da corrente provocando a deposição gradual dos sedimentos carreados pelo curso d´água, ocasionando o assoreamento, diminuindo gradativamente a capacidade de armazenamento do reservatório e podendo vir a inviabilizar a operação do aproveitamento, além de ocasionar problemas ambientais de diversas naturezas.
Segundo a mesma fonte, valores de produção de sedimento altos, como 200 t/km2.ano, são muito prejudiciais, podendo afetar o reservatório com depósitos indesejáveis. Segundo critérios internacionais, pode-se considerar os valores da Tabela abaixo como indicação para estudos.
Tolerância | Produção |
---|---|
Alta | 175 |
Moderada | 70 a 175 |
Baixa | 35 |
A TURBIDEZ da água é uma consequência direta do arraste e deposição dos sedimentos no leito dos lagos e reservatórios e apresenta danos ecológicos (alguns temporários), tais como: a) impedimento à penetração da luz solar e, portanto, dificultando a fotossíntese; b) recobrimento dos ovos de peixes e outros animais aquáticos e dos seus habitats; e c) outros inconvenientes.
Os sedimentos como ALIMENTO E HABITAT cumprem uma função ecológica muito importante nos lagos e reservatórios. Existe toda uma comunidade bentônica que se alimenta dos detritos (ou sedimentos) aí depositados: peixes (como o bagre da foto), invertebrados aquáticos, e outros.
A RETENÇÃO DE PRODUTOS TÓXICOS pelos sedimentos é, possivelmente, o maior dano ecológico, depois da eutrofização . Os sedimentos podem ser considerados a memória de um lago. São neles que a poluição já ocorrida fica acumulada e armazenada. São medidos em mg/kg de peso seco de Fe, Zn, Mn, Cu, Pb, Cr, Ni, Cd, Hg, etc.
Considerando o sedimento como o compartimento que reflete todos os processos que ocorrem em um ecossistema aquático, a sua composição também deve dar indicação do seu estado trófico. Segundo Naumann (1930), em lagos oligotróficos de regiões temperadas, o sedimento caracteriza-se pelo baixo teor de matéria orgânica (que lhe confere cor clara) e baixa concentração de nutrientes. Por outro lado, em lagos Mesotróficos e, especialmente em lagos Eutróficos, o teor de matéria orgânica e a concentração de nutrientes aumenta consideravelmente.
A capacidade do sedimento acumular compostos faz deste compartimento um dos mais importantes na avaliação do nível de contaminação dos ecossistemas aquáticos continentais. De acordo com Adams (1995), as abordagens integradas, envolvendo análises químicas, físicas e biológicas dos sedimentos, parecem ser as mais adequadas nos estudos toxicológicos.
Os organismos utilizados para avaliação da toxicidade de sedimentos podem ser de diferentes níveis tróficos e/ou funcionais. O uso de várias espécies é importante porque a sensibilidade das espécies varia conforme o agente tóxico e as condições ambientais. Contudo, os macroinvertebrados bentônicos (organismos do leito que são retidos em redes com malha de 200 a 500 um, incluindo larvas de insetos, moluscos, oligoquetos, hirudíneos e crustáceos) são os mais indicados, pois vivem em contato direto com o sedimento.
Várias são as técnicas de coleta do sedimento do fundo de lagos e reservatórios. Destacam-se as seguintes:
Quando o lago é raso, pode-se coletar o sedimento manualmente, com um tubo de PVC ou acrílico chamado core, como pode ser visto na figura da esquerda.
Quando é mais profundo, ou a quantidade a coletar é maior, pode-se utilizar uma caçamba metálica, suportada por um guincho, manejado a partir do barco, como na ilustração à direita.
Os dispositivos chamados de pegadores ou busca-fundos, como o de Petersen, mostrado ao lado, coletam material de uma área do substrato por meio da sua penetração no fundo em função do seu peso. O fechamento é feito por mecanismo ativado por braço em alavanca ou cordas.