bacias urbanas

bacia rural

Ao contrário de uma bacia tipicamente rural (foto esquemática ao lado), onde a rede hidrográfica fica sempre à mostra e bem definida pela topografia do terreno (as linhas em azul representam o rio principal e seus afluentes), as bacias urbanas, na maioria das vezes, apresentam os seus limites imperceptíveis; as ruas tomam o lugar dos afluentes (a água só aparece quando chove, ou é confinada nas tubulações subterrâneas de drenagem) e um simples valão ou canal de concreto pode ser o "rio principal". Quando a cidade conta com rede de esgotos sanitários, o limite físico da bacia pode ser aquele formado pelas cabeceiras das linhas e o ponto onde essas se reunem numa estação elevatória ou são despejadas num córrego natural, a céu aberto.

rio urbano

Complementando o que foi dito acima, a figura ao lado mostra um canal feito de pedras (em telas chamadas de gabião), que bem poderia ser o "rio principal" de uma bacia urbana. A seção retangular (ou quadrada) é indicada e conveniente, seja pela facilidade de projeto e construção, como pelo pouco espaço lateral exigido. Muitas vezes, para economizar mais espaço, esse canal é coberto por uma laje de concreto, ficando "escondido" dos transeuntes.

enchente numa zona comercial

A urbanização produz grande impermeabilização do solo, reduzindo a evapotranspiração, o escoamento subterrâneo e o tempo de concentração da bacia. Com isso, poucos minutos após uma chuva forte, aparecem os primeiros sinais de alagamento, que pode interromper o trânsito, inundar casas e causar muitos outros prejuizos materiais. Esses e outros problemas da Drenagem Urbana estaremos discutindo com você neste capítulo.

Dentre os principais impactos das inundações sobre a população estão: os prejuízos de perdas materiais e humanos, a interrupção da atividade econômica das áreas inundadas, a contaminação por doenças de veiculação hídrica como leptospirose, cólera, entre outros e a contaminação da água pela inundação de depósito de materiais tóxicos, estações de tratamento, entre outros.

sedimentos lançados no rio

As enxurradas também "lavam" as superfícies das ruas, conduzindo os poluentes (bactérias, metais pesados, óleos e graxas, etc.) para os cursos d´água, afetando assim a flora e a fauna. Veja, na foto ao lado, a água barrenta do córrego sendo despejada no rio de águas mais limpas. Essa água suja, rica em nutrientes (principalmente Fósforo e Potássio), vai provocar o crescimento acelerado de plantas aquáticas, como as gigogas ou aguapés.

enchente numa zona residencial

As ruas respondem por cerca de 40 a 50% da cobertura impermeável nas áreas residenciais. Já os telhados, dependem do tipo de habitação (popular ou de classe média ou alta) construída no local. Em ambos os casos, esses 2 tipos de superfícies impermeáveis (além dos estacionamentos), são os que mais contribuem para as enchentes urbanas. Com elas, surgem doenças, riscos de choques elétricos e o ataque de animais peçonhentos.

Segundo a Agência Nacional de Águas - ANA, estudos relativamente recentes feitos no exterior, apresentam um novo conceito em projetos de drenagem urbana. Este modelo adota pisos permeáveis, canais abertos com margens arborizadas, reservatórios de retenção e outras técnicas, que veremos à seguir.

Os fundamentos da drenagem urbana moderna estão basicamente em não transferir os impactos à jusante, evitando a ampliação das cheias naturais, recuperar os corpos hídricos, buscando o reequilibro dos ciclos naturais (hidrológicos, biológicos e ecológicos) e considerar a bacia hidrográfica como unidade espacial de ação.

As medidas de controle de inundações podem ser classificadas em estruturais, quando o homem modifica o rio: obras hidráulicas, como barragens, diques e canalização; e em não estruturais, quando o homem convive com o rio: zoneamento de áreas de inundação, sistema de alerta ligado à defesa civil e seguros. No Brasil, não existe nenhum programa sistemático de controle de enchentes que envolva seus diferentes aspectos. O que se observam são ações isoladas por parte de algumas cidades.

Soluções


As principais soluções para os problemas apresentados são:

  •  1 - Captação dos telhados
  •  2 - Bacias de infiltração
  •  3 - Bacias de detenção
  •  4 - Bacias de retenção
  •  5 - Áreas livres
  •  6 - Arborização urbana
  •  7 - Rio com mata ripária
  •  8 - Pisos permeáveis
captação dos telhados

água da chuva

A imagem ao lado mostra um jardim, com 2 anos de vida, numa cidade norte-americana, sendo regado pela água da chuva (veja, no extremo inferior direito, a calha metálica que desce do telhado). Dizia o texto, que pássaros e borboletas são visitantes regulares do local. A água da chuva, captada dos telhados, com os devidos cuidados higiênicos, pode servir ao consumo humano ou, pelo menos, para lavagem de roupa, do carro e de calçadas, despejo na privada e outros usos.

bacias de infiltração

bacia de infiltração

A bacia de infiltração é uma depressão no terreno com as finalidades de: reduzir o volume das enxurradas, remover alguns poluentes e promover a recarga da água subterrânea. Pode ser construída às margens das rodovias e estradas vicinais.

bacia de infiltração2

Ao longo das rodovias de pista dupla, podem ser construídos valos de drenagem gramados (como mostrado na foto ao lado), que funcionam também como uma bacia de infiltração. Além de integrar-se à paisagem, são muito eficientes na retenção e infiltração das enxurradas que drenam das pistas de rolamento.

estacionamento

E já que estamos tratando de rodovias e infiltração, não custa falar dos estacionamentos. Segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, o sistema de transportes que inclui rodovias e estacionamentos, contribui com cerca de 70% das superfícies impermeáveis nas áreas urbanas. O ideal é que os estacionamentos tenham piso de areia grossa ou cascalho mas, na sua falta, áreas com grama (como a da foto) já minimizam o problema.

Este Manual de Meio Ambiente do Departamento de Estradas de Rodagem do Rio Grande do Sul, mostra uma série de soluções de engenharia e paisagísticas para as rodovias e fala, inclusive sobre as bacia de retenção ao longo das mesmas.

bacias de detenção

bacia de detenção

A bacia de detenção é um tanque com espelho d´água permanente, construído com os objetivos de: reduzir o volume das enxurradas, sedimentar cerca de 80% dos sólidos em suspensão e o controle biológico dos nutrientes. Servem a uma única propriedade ou podem ser incorporados ao plano regional de controle das enchentes urbanas. Há a necessidade de remoção periódica do lodo e de proteção contra a eventual queda de animais e pessoas.

bacia de detenção seca

Existe também a bacia de detenção seca, projetada para armazenar temporariamente o volume das enxurradas e liberá-lo lentamente, a fim de reduzir a descarga de pico à jusante. Como a outra bacia (permanente), dispõe de estruturas hidráulicas de esgotamento.

bacias de retenção

bacia de retenção

A bacia de retenção tem os mesmos objetivos da bacia de detenção, com a diferença que libera o volume das enxurradas mais lentamente. Na Engenharia Sanitária os termos detenção e retenção costumam ser sinônimos, porém aqui, há uma sutil diferença nos dispositivos hidráulicos das estruturas (das bacias, tanto de detenção como de retenção) à jusante, que liberam a água represada de volta para a bacia urbana.

áreas livres

parque público

Diz o site "Protegendo as Nossas Águas", da bacia do rio Milwaukee (que serviu de base para esta minha página) que, na cidade de Mequon (também nos Estados Unidos), exige-se 40% de área livre em todos os novos empreendimentos comerciais ou industriais. O argumento é que essas áreas possibilitam a redução da largura das ruas, tamanhos menores dos lotes e a eliminação de calçadas, meio-fio e sarjetas. Também reduzem o transporte de nutrientes pelas enxurradas em 45 a 60% e as áreas impermeáveis, em cerca de 35 a 50%.

arborização urbana

rua coberta com árvores

São vários os benefícios da arborização urbana: retém parte das chuvas (interceptação), diminui o escorrimento superficial, alimenta o lençol freático, dá sombra, reduz a temperatura do pavimento e das águas das enxurradas, atenua o ruído, filtra o ar, dá frutos (às vezes comestíveis) e embeleza a rua onde está localizada.

base da árvore

A fim de propiciar uma copa contínua, o espaçamento entre elas, dependendo do seu porte quando adultas, deve ser de 7,5 a 10,5 m, de ambos os lados da rua e em posições alternadas. Além disso, é imprescindível que o espaço em volta do seu pé, permita a penetração da água da chuva (o que, muitas vezes, não acontece), através de uma grelha metálica, como a da foto ao lado. Deve-se cuidar ainda, na seleção da espécie, para aquelas que não sujem muito a rua, como as amendoeiras, e nem aquelas que, quando adultas, o tronco engrossa muito ou as raizes arrebentam o pavimento das calçadas.

rio com buffer

bacia de retenção

Chama-se de mata ripária aquela que, partindo da margem dos rios, estende-se até a vertente ou encosta mais próxima. Nas bacias urbanas, são faixas com mata de 15 a 30 m de largura, em ambas as margens, conservadas intocadas para proteger e melhorar as condições ecológicas dos rios. Podem ser criadas 3 zonas de proteção, a partir do eixo do rio: marginal, média e exterior. O propósito de cada zona é diferente e, portanto, devem ser formadas por vegetação e largura diferentes. No Brasil, é comum ver-se construções (em geral palafitas) construídas bem na beira do rio ou córrego, dificultando o escoamento e sendo inundadas nas cheias.

pisos permeáveis

piso permeável

Já foi dito acima que as rodovias e estacionamentos perfazem até 70% das áreas impermeáveis nas cidades. Uma solução viável para esse problema, são os pisos em terra (areia grossa lavada), cascalho, grama, perfil com materiais drenantes (com geotêxteis, inclusive, para evitar a colmatação) ou com blocos permeáveis de cerâmica ou concreto, com furos para a penetração da água, como visto nesta foto.

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