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O Professor José Luiz Viana do Couto fez o Curso de Aviação Agrícola na UFRRJ em 1988
(coordenado pelo Eng. Agr. Marcos Vilela de Magalhães Monteiro, um dos pioneiros da Aviação Agrícola no Brasil), quando
também atuou como Mestre nos Capítulos de Combate ao Mosquito, Incêndios Florestais e Microclimatologia. De lá para cá, não
teve mais chances de se atualizar no assunto. Portanto, os especialistas que quiserem colaborar (com o que acharem ultrapassado
no texto que se segue), fiquem à vontade.
PEQUENO HISTÓRICO
A aviação agrícola foi inventada pelo agente florestal alemão Alfred Zimmermann em 29/03/1911 mas
só teve aplicação comercial nos EUA, em 1921. Nessa ocasião, o inseticida era jogado do avião por um 2o. passageiro, de um saco.
As técnicas modernas de aplicação, como a do Baixo-Volume (10 a 30 l/ha) só iniciaram a partir de 1943.
O 1o. avião projetado especificamente para uso agrícola foi o AG-1, desenvolvido em 1950 nos EUA.
No Brasil, o 1o. vôo agrícola deu-se em 1947, no Rio Grande do Sul (estado que sempre se destacou neste
tipo de aplicação), no combate a uma praga de gafanhotos.
A aviação agrícola foi oficial e formalmente reconhecida no Brasil em 07/10/1969, através do DL No.917.
Esse Decreto Lei foi regulamentado pelo Decreto No. 86.765 de 22/12/1981.
Avião Agrícola IPANEMA da Embraer
A Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. - Embraer produziu o seu primeiro avião agrícola, o EMB-200 ou
Ipanema, em 1970. Em 1988 a frota brasileira de aviões agícolas era de aproximadamente 600 aeronaves.
Em 1978 a Comissão de Agricultura do Congresso dos Estados Unidos considerou a aviação agrícola
como a tecnologia mais importante para o aumento a curto prazo da produtividade agrícola daquele país e sugeriu investimentos do Governo
Federal com a finalidade de aprimorar a atividade.
Os primeiros ensaios de aplicação aérea com helicópteros (aeronaves de asa móvel) foram realizados por W.E.Ripper, em 1944, na
Inglaterra. Em 1988 estes aparelhos representavam cerca de 10 a 12% da frota agícola mundial total. As vantagens dessa aeronave sobre
os aviões agrícolas é que podem ser usadas em áreas pequenas, topografia acidentada e ausência de pistas; daí no Japão, ser o único
veículo usado nas aplicações aéreas. Sua potência varia de 300 a 1800 HP, suporta de 120 a 1500 kg de carga e possui uma velocidade
operacional de 60 a 100 milhas por hora (m.p.h.).
ATIVIDADES DA AVIAÇÃO AGRÍCOLA
SETOR |
BIOAERONÁUTICA |
ALTURA DE VÔO |
Agricultura, Silvicultura e Pecuária |
Inspeções; Mapeamentos; Sensoriamento remoto; Previsão de safra; Adubação; Semeadura; Controle de pragas,
doenças e ervas daninhas; Maturação; Desfolhamento; Outras. |
3 a 5 m acima da vegetação |
Piscicultura |
Peixamento e Cultivo químico. |
Sem informações |
Saúde Pública |
Controle de vetores (malária, dengue e oncocercose) |
50 a 100 m do solo |
Modificação do tempo |
Nucleação de núvens (chuva artificial); Controle de geadas; e Supressão de neve. |
Até 2.000 m (núvens baixas) |
Ecologia |
Controle de poluição marinha (óleo) |
Sem informações |
Diversos |
Inspeção de linhas de alta tensão; Controle de incêndios florestais; Outras |
15 a 30 m acima da copa |
CATEGORIAS DE AERONAVES
- leve = PA-18 e similares
- médio = Ipanema e similares
- pesado = Air tractor e similares
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
- Decolar com carga total numa distância de 400 m, atingindo 15 m de altura;
- Operar a velocidades de 60 a 100 milhas por hora (m.p.h.) ou mais;
- Ter velocidade mínima de operação segura igual a 45 m.p.h. para poder aplicar a 60 m.p.h.;
- Possibilitar excelente visão do piloto para frente e para baixo, a fim de evitar colisões com cercas, árvores, fios elétricos, etc.;
- Possuir motores de até 300 HP e 800 kg de carga nos aviões agrícolas e de até 80 HP e 200 kg de carga nos ultraleves;
- Serem vantajosos para operações em grandes áreas (superiores a 1.000 ha);
- Dimensões mínimas do campo de pouso e decolagem para ultraleves: 700 x 30 m; e
- O produto da altura de pulverização pela velocidade do vento, deve situar-se entre 40 e 90 (vide Quadro abaixo)
ALTURA DE VÔO (H) VERSUS VELOCIDADE DO VENTO (V)
H(m) |
V(km/h) |
HxV |
DERIVA |
3 |
5 |
15 |
pequena |
3 |
10 |
30 |
pequena |
3 |
15 |
45 |
média |
5 |
15 |
75 |
grande |
VOLUMES DE APLICAÇÃO
TÉCNICA |
l/ha |
ha/h |
Alto volume-AV |
40-60 |
30-50 |
Baixo volume-BV |
10-30 |
60-70 |
Ultra baixo volume-UBV |
< 5 |
80-120 |
DETERMINAÇÃO DO NÚMERO DE BICOS
Seja, por exemplo, o caso de se desejar calcular o número de bicos a serem utilizados na barra de
pulverização de um avião agrícola (com velocidade de cruzeiro de 110 milhas por hora e faixa de deposição de 15 metros), para
aplicar o volume de 40 l/ha à pressão de 40 psi, usando bicos D10-45 da Spraying
Systems do Brasil Ltda. (Tabelado em função do tipo de jato, no caso, cônico).
- Área tratada por minuto: A = mph x fd x 0,00265 = 110 x 15 x 0,00267 = 4,4 ha/min
- Vazão total do equipamento: Q = l/ha x ha/min = 40 x 4,4 = 176 l/min
- Vazão unitária do bico: q = 4,16 l/min (tabelado)
- Número de bicos: N = Q/q = 176/4,16 = 42 bicos
NOTA: A barra de pulverização do avião Ipanema comporta até 50 bicos.
Uma das atividades agrícolas mais desumanas é a pulverização de lavouras com o uso de aviões
agrícolas. Havia a necessidade de uma ou duas pessoas sinalizarem as linhas por onde o avião deveria
passar e, estas, geralmente levam um arrepiante banho de agrotóxicos.
Para não haver desperdício de produtos (que pode chegar a 70%), não se deve pulverizar com
temperaturas superiores a 35oC e nem com umidade relativa do ar inferior a 60%.
O ultraleve, além dos menores custos de aquisição ou aluguel, oferecem as vantagens de:
- necessitarem de menores pistas que os aviões convencionais;
- poderem operar em menores altitudes;
- serem econômicos e operacionais em áreas (plantadas) pequenas;
- apresentarem menores custos de manutenção;
Os ultraleves devem ter peso vazio por volta de 230 kg, carga alar de 25kg/m2 e até 2 ocupantes.
Atualmente os aviões agrícolas contam com sistemas DGPS (Sistemas Diferenciais de Posicionamento por Satélites)
que, semelhante ao que ocorre na aerofotogrametria, podem seguir um planejamento de vôo, composto por linhas projetadas
que recobrem a área a ser pulverizada. A aeronave pode ser mantida segundo estas linhas, acionando automaticamente o sistema de
pulverização ao cruzar o limite da área e encerrando ao sair.
Vide a reportagem da Revista INFOGEO número 11, de jan/fev de 2000, páginas
27 e 28, intitulada: "O papel das Geotecnologias no desenvolvimento da agricultura".
Eliminou-se assim a necessidade de pessoas sinalizando as linhas (os "bandeirinhas"), que corriam
sérios riscos de intoxicação nesta tarefa.
O sistema possui a capacidade de monitorar a quantidade aplicada, informando com mapas
e relatórios o que foi realizado, permitindo avaliações e decisões mais eficientes por parte do piloto e do contratante. A mesmo tempo
possibilita maior controle reduzindo o desperdício e a probabilidade de acidentes ambientais.
Na figura ao lado, vê-se o painel de comando de um Ipanema, sobressaindo-se pelo tamanho e posição
(ao centro) um aparelho de DGPS, para indicar ao piloto a posição exata da aeronave (quando em vôo) e assim, dispensar os antigos
"bandeirinhas" que ficavam no solo para indicar ao piloto a direção exata que deveria seguir para aplicar na faixa correta o agrotóxico.
INTOXICAÇÕES E O USO DE E.P.I.
O caso mais comum de intoxicações dos agricultores que lidam com a aplicação de defensivos
agrícolas com o uso de aeronaves é através da pele, ou seja, pela via dermal. Alguns produtos entram no corpo muito mais
rapidamente, em particular os produtos concentrados; a maioria, nos primeiros minutos.
Os equipamentos de proteção individual (E.P.I.s) recomendados nesta atividade são os seguintes:
- luvas de borracha, compridas e bem vedadas;
- capas de plástico, cobrindo todo o corpo (dos punhos ao tornozelo);
- botas de borracha e cano alto;
- óculos para serem usados no preparo do concentrado;
- chapéu de palha ou plástico; e
- respiradores de cartucho (para boca e narinas).
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