Autor(a):
MÁRCIA CRISTINA COSTA DE AZEVEDO
Resumo:
Bagres Marinhos (Ariidae) são os mais abundantes recursos pesqueiros em arrastos de fundo na Baía de Sepetiba, RJ (Lat. 20º54' - 23º04'S; Long. 43º34'- 44º10'W) que é uma importante área de criação e alimentação de uma grande variedade de espécies de peixes na fase juvenil, sendo a atividade pesqueira um dos suportes econômicos da região. Padrões espaciais e sazonais de distribuição e abundância relativa dos bagres marinhos, baseada no número e peso de peixes por arrasto, foram analisadas com base em 151 amostragens de arrasto de fundo, em sete locais da Baía de Sepetiba, entre julho de 1993 a junho de 1996. Para investigação destes padrões, dividiu-se arbitrariamente a área de estudo em uma zona interna, situada no interior da Baia; e uma zona externa, localizada em uma área com maior influência das águas oceânicas. As amostragens foram mensais de julho de 1993 a junho de 1994 (1º ciclo anual), e bimestrais no período de julho de 1994 a junho de 1996 (2º e 3º ciclos anuais). Os arrastos foram realizados por embarcação tipo arrasteiro, utilizada na pesca comercial na Baía com 12 m de comprimento e provida de rede com portas (otter trawl), com malha de 12 mm na região do saco e abertura de boca de 8 m. A duração dos arrastos foi padronizada em meia hora, à velocidade de 2 nós, cobrindo uma extensão de aproximadamente 1,5 Km. Juntamente com os arrastos de fundo, foram feitas medições da temperatura e salinidade da água de superfície e fundo, da transparência e da profundidade. A temperatura da água apresentou sazonalidade com máximas no verão (superfície - 28,3ºC; fundo - 27,1ºC) e mínimas no inverno (superfície - 21,6ºC; fundo - 21,7ºC). A salinidade foi de 28,8%o para água de superfície e 31,1%o para água de fundo, com os menores valores observados na proximidade da embocadura do Rio Guandu (superfície - 22,9%o; fundo - 29,6%o). A transparência média foi de 1,62 m na zona interna da Baía e 3,8 m na zona interna. A profundidade média foi de 3,6 m na zona interna e 13,1 m na zona externa. Um padrão de variação espacial baseado nos fatores ambientais da Baía, através da análise multivariada, é apresentado com maiores profundidade e transparência na zona externa e menores na zona interna, com pequeno gradiente de salinidade da zona interna para a zona externa. Somente a temperatura apresentou sazonalidade. Cinco espécies de bagres marinhos foram registrados na seguinte ordem de abundância numérica decrescente: Genidens genidens (Valenciennes, 1839), Cathorops spixii (Agassiz, 1829), Sciadeichthys luniscutis (Valenciennes, 1840), Netuma barba (Lacépède, 1803) e Bagre marinus (Mitchill, 1814), sendo esta última espécie capturada em apenas duas amostragens e portanto não incluída nas análises de abundância relativa. Modificações na abundância relativa dos bagres marinhos foram observadas no decorrer dos três ciclos anuais. G. genidens apresentou maior abundância relativa no primeiro e segundo ciclos anuais e C. spixii seguido de S. luniscutis no terceiro. N. barba foi a espécie de menor abundância nos três ciclos anuais, com menores abundâncias no terceiro ciclo anual. Foi apresentado, através de técnicas estatísticas uni e multivariadas, que as quatro espécies de bagres marinhos ocorreram em maior abundância na zona interna da Baía, com indicações de separação espacial entre as mesmas. G. genidens foi abundante em todas as estações de coleta da zona interna da Baía, C. spixii apresentou distribuição mais restrita na zona interna e N. barba, nas proximidades da embocadura do Rio Guandu, enquanto S. luniscutis apresentou ampla distribuição na zona interna e externa da Baía. A sazonalidade não foi marcada para estas espécies. Diferenças na distribuição espacial por classes de tamanho foram investigadas. Apenas S. luniscutis apresentou diferenças, com recrutas (CT < 180 mm) sendo mais abundantes nas proximidades da embocadura do Rio Guandu e indivíduos com CT > 180 mm na zona interna e externa da Baía. C. spixii, G. genidens e N. barba, independentes da classe de tamanho, foram mais abundantes (p<0,05) ma zona interna da Baía. C. spixii (CT = 20-350 mm) foi observado realizando incubação oral na zona interna da Baía, em dezembro de 1994 e de 1995, e S. luniscutis (CT = 50-400 mm), em janeiro de 1993. G. genidens (CT = 60-350 mm) e N. barba (CT = 90-330 mm), não foram capturados carregando embriões na boca. Estratégias de separação espacial, podem estar explicando a coexistência em elevada abundância de bagres marinhos na Baía de Sepetiba, que funciona como área de criação destes peixes, os quais encontram nas menores profundidade e transparência da zona interna, condições favoráveis para o desenvolvimento de seus ciclos de vida.