Autor(a):
ALEXANDRE CLISTENES DE ALCANTARA SANTOS
Resumo:
A família Gerreidae compreende grande número de peixes de ambientes costeiros de águas tropicais e sub-tropicais, e desempenha importante papel econômico, por participar da pesca, e ecológico, por ligar diferentes níveis tróficos da cadeia alimentar nestes ecossistemas. Na Baía de Sepetiba, um ecossistema costeiro do Estado do Rio de Janeiro (22º54’ e 23º04’S; 43º34’ e 44º10’W) com ampla comunicação com o mar, este grupo de peixes, conhecidos como carapebas, carapicus e caratingas, destaca-se como um do mais abundantes em número e em biomassa. O presente trabalho teve como objetivo determinar os padrões temporais e espaciais das espécies de peixes da família Gerreidae na Baía de Sepetiba, RJ, assim como obter conhecimento sobre a alimentação das espécies mais abundantes que ocorrem no local. Para isto, foram realizadas amostras mensais (93/94) e bimestrais (94/95) de arrasto de fundo no interior da Baía e amostras mensais (93/94) de arrastos de praia em sua margem continental. As estações de coleta foram distribuídas em duas áreas, conforme sua localização na zona protegida no interior da Baía, ou na zona desprotegida, situada além do "cordão" formando por diversas ilhas, na parte mais externa e próxima da ligação com o mar. Os hábitos alimentares foram analisados através da identificação de seus conteúdos estomacais, utilizando-se os métodos de freqüência de ocorrência e volumétrico de pontos. Junto com as amostragens de peixes, foram tomados os fatores ambientais de temperatura, salinidade, transparência e profundidade para examinar eventuais relações com a ocorrência dos peixes. Seis espécies de Gerreidae: Gerres aprion, Gerres gula, Gerres melanopterus, Gerres lefroyi, Diapterus rhombeus e Diapterus richii foram identificadas na área. D. rhombeus, G. aprion e G. gula, nesta ordem, foram os mais abundantes, contribuindo com mais de 90% do total capturado, estando presentes em todos os meses e locais de coleta nos arrastos de fundo, e na maioria destes nos arrastos de praia. Juvenis de D. rhombeus e G. aprion, provavelmente provenientes das desovas de final de primavera e verão, usam a zona intermediária da Margem Continental, durante o verão e início do outono, deslocando-se, após atingir CT de aproximadamente 60 mm, para o interior da Baía, onde completam seu ciclo de vida. Como adultos, D. rhombeus, G. aprion e G. gula, parecem apresentar segregação espacial ocupando diferentes locais da zona mais interior e protegida da Baía. As espécies não apresentaram associações evidentes de suas abundâncias com os parâmetros ambientais analisados, com exceção de D. rhombeus que parece estar associado aos locais de menores profundidades e transparências. Foi verificada uma sobreposição alta nos hábitos alimentares das três espécies, sendo os itens mais importantes fragmentos vegetais e animais, microcrustáceos (copépodos ciclopóides, calanóides e ostracodas) e poliquetas. No entanto, algumas indicações de diferenciação foram observadas, com poliquetas sendo mais abundantes na dieta de G. gula, enquanto que microcrustáceos tiveram maior importância para D. rhombeus. Juvenis (CT < 120 mm) destas três espécies alimentaram-se em maior volume de microcrustáceos, em relação aos sub-adultos e adultos (CT > 120 mm) que apresentaram maior freqüência de poliquetas. G. aprion, G. gula e D. rhombeus coexistem em elevadas abundâncias na Baía de Sepetiba, através do uso eficiente dos recursos alimentares disponíveis e por desenvolverem uma estratégia de separação espacial, principalmente quando adultos.