Autor(a):
DANIEL SHIMADA BROTTO
Resumo:
As regiões costeiras compreendem os ecossistemas marinhos mais comprometidos pelas ações antrópicas. Entre as medidas a serem consideradas na restauração destes ecossistemas, destaca-se a criação de habitats artificiais, que podem consistir em estruturas artificiais de diferentes composições, formatos e origens, conhecidas como recifes artificiais. No Brasil não obstante a existência de algumas iniciativas para a instalação de recifes artificiais (a maior parte visando incrementos na produção pesqueira), são poucos os pesquisadores a abordar este tema em seus estudos. Os padrões de colonização de estruturas artificiais de diferentes formatos e dimensões por organismos marinhos nectônicos e bentônicos foram avaliados através de dois experimentos, instalados na enseada de Monsuaba na Baía da Ilha Grande, Angra dos Reis, RJ. No primeiro, cinco diferentes tipos de estruturas confeccionadas de telha de barro, foram instaladas e posteriormente monitoradas durante um ciclo anual, sendo realizadas quantificações dos organismos associados a cada tipo de estrutura. No segundo, estimou-se os padrões de recrutamento e colonização por bentos sésseis em lajotas de cerâmica. Quatro diferentes padrões temporais de abundância dos organismos monitorados foram identificados: 1) Crescente, para os peixes Epinephelus guaza, Ripticus randalli e Haemulidae além do equinodermo Holoturoidea; 2) Decrescente, para os peixes Diplectrum radiale e Oligolites sp., além do crustáceo Callinectes danae; 3) Crescente/decrescente, para o peixe Stephanolepis hipidus e a maior parte dos invertebrados monitorados e 4)Indefinido, para o restante dos organismos monitorados. Sugere-se que estes padrões estejam relacionados aos efeitos da instalação do conjunto de estruturas nas populações dos organismos monitorados. Ao longo do ciclo sazonal foram também observadas variações na abundância dos organismos monitorados; D. radiale foi significativamente mais abundante no inverno, Anchoa sp. no inverno e na primavera, Oreaster reticulatus na primavera e no verão, Diapterus sp. no verão, Heamulidae no outono e Gerres sp. no outono e inverno. A abundância dos peixes Serranus flaviventris, R. randalli, E. guaza, S. hispidus e Micteroperca rubra, e o iquinodermo O. reticulatus, além dos crustáceos Menippe nodifrons e "outros portunidae" parece estar diretamente associada a maior complexidade e/ou dimensões das estruturas, por outro a abundância dos peixes Gerres sp. Haemulidae e D. radiale além dos crustáceos Portunus spinimanus e C. danae não parece estar associada a maior complexidade e/ou dimensões da estrutura. O recrutamento de bentos sésseis mostrou-se estável sem grandes variações entre os diferentes meses do período estudado. A maior ocupação da área disponível nas lajotas parece estar relacionada ao maior tempo de imersão. Os incrementos observados na abundância de organismos nectônicos e bentônicos vágeis monitorados, são provavelmente devidos a uma combinação dos padrões sazonais de recrutamento e/ou efeito atrator do conjunto de estruturas na biota marinha da região. No Brasil os recifes artificiais são mais freqüentemente considerados como uma técnica utilizada para a concentração de pescados, e não como uma técnica para a restruturação de ecossistemas costeiros degradados. A instalação de recifes artificiais simplesmente visando atender as pressões impostas pela pesca por razões meramente políticas, só tende a piorar a deterioração dos ecossistemas costeiros. Prioridade deve ser dada a iniciativas que visem a utilização criteriosa de recifes artificiais como medida mitigatória dos efeitos de origem antrópica nos ecossistemas costeiros, assim como os estudos dos efeitos advindos da instalação de recifes artificiais nestes ambientes.