Autor(a):
ANTONIO GOMES DA CRUZ FILHO
Resumo:
Baías e lagoas costeiras são regiões de grande importância para as populações de peixes, por constituírem locais de reprodução e criação de grande número de espécies que ocorrem tanto nestes locais, como na área costeira adjacente. O conhecimento das estrutura das populações de peixes e suas funções no ecossistema pode servir como subsídios para programas de monitoramento, gerenciamento e proteção dos recursos naturais. Este trabalho foi realizado na Baía de Sepetiba, localizada na região Sudeste do Estado do Rio de Janeiro, com o objetivo de contribuir para o conhecimento da comunidade de peixes desta área e detectar padrões de distribuição espaciais, sazonais e suas eventuais relações com os fatores ambientais. Dois programa amostrais foram realizados, um de arrasto de praia e outro de arrasto de fundo, ambos com coletas mensais, entre Julho de 1993 e Julho de 1994. As amostragens foram realizadas em estações de coletas definidas conforme sua localização na parte mais interna da Baía (protegida) ou fora do "cordão" formado por diversas ilhas, na sua parte mais externa (desprotegida) e localizadas no interior da Baía (arrasto de fundo) e em sua margem continental (arrasto de praia). Juntamente com as pescarias mensais foram tomados informações dos fatores ambientais de temperatura, salinidade, transparência e profundidade para cada amostragem. Técnicas univariadas de análise de variância e multivariadas de análise de componentes principais e análise de agrupamento foram utilizadas para determinação de padrões espaciais e temporais, tanto nos parâmetros ambientais como nas espécies de maior abundância, bem como descrever e estabelecer eventuais relacionamentos entre os dados bióticos e abióticos. A comunidade é composta de, pelo menos, 117 espécies de peixes, compreendendo 82 gêneros e 44 famílias, num total de 28614 indivíduos coletados nos 75 arrastos de fundo e nos 60 arrastos de praia. Deste total, 35 espécies, 29 gêneros e 19 famílias foram comuns tanto na margem continental como no interior da Baía, tendo 97 espécies ocorrido no interior da Baía e 55 na margem continental. Arridae, Gerreidae Sciaenidae, Carangidae, Atherinidae, Sparidae, Mugilidae, Haemulidae, Engraulidade, e Genidens genidens, Cathorops spixii, Gerres aprion, Diapterus rhombeus, Micropogonias furnieri, Chloroschombrus chrysurus, Xenomelaniris brasiliensis, Arcosargus rombhoidalis, Mugil liza, Haemulon steindachneri e Anchoa januaria foram as famílias e espécies mais abundantes na área. Os parâmetros ambientais examinados apresentaram um padrão sazonal bem definido para a temperatura e uma estabilidade para a salinidade e transparência da água, em paralelo a diferenças espaciais caracterizadas pela diminuição da profundidade e da transparência, e por um pequeno gradiente de diminuição de salinidade na zona interior e mais protegida da Baía. As maiores abundância numéricas e em peso foram apresentadas para as estações da zona protegida embora o número de espécies não tenha apresentado variação espacial significante. Análise multivariadas apresentaram um padrão mais evidenciado de variação espacial, no interior da Baía, onde as espécies mais abundantes estiveram associadas às estações de menores transparências, profundidades, bem como menores salinidade, embora este último fator não tenha apresentado significante variação. Um padrão sazonal para os fatores ambientais provavelmente, contribui para a pouca definida variação sazonal dos peixes. Na margem continental, por outro lado, o padrão sazonal por influência da temperatura foi melhor definido e associado com as maiores abundâncias de peixes jovens nos meses do outono com ampla distribuição dos peixes nas estações de amostragens. O elevado número de espécie levantados, especialmente no interior da Baía sugere que muitos peixes utilizam a Baía como área de criação nos primeiros anos de seus ciclos de vida. A composição e estrutura da comunidade de peixes parece apresentar variações em relação à informações de períodos anteriores, o que pode ser útil em trabalhos de monitoramento de qualidade da água, haja vista que a Baía encontra-se sobre forte pressão de alterações de origem antrópicas nos últimos anos.