6.1 - Antes
Nos programas de Gestão Ambiental Rural, há algumas tarefas que precisam ser cumpridas antes de se iniciarem os estudos,
pois elas têm por fim orientar e embasar as pesquisas e ações necessárias. São elas:
6.1.1 - Definir objetivos
Como todo trabalho de Gestão, o primeiro passo é definir os objetivos a serem perseguidos. Estes podem estar relacionados
ao atendimento à(s) exigência(s) de uma Norma, o desejo de obter uma certificação, como a da ISO 14.000 ou obter um
crédito bancário.
6.1.2 - Reunir dados
Definidos os objetivos, o próximo passo é a coleta de dados que possam servir como parâmetros de comparação dos estudos
ambientais posteriores, entre esses, as Normas e Resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA.
6.1.3 - Procurar ajuda
Em se tratando de um tema complexo e multidisciplinar, pode ser que o Gestor sinta a necessidade de se assessorar com
alguém da área rural, quando surge de imediato a imagem da Empresa Municipal de Assistência Técnica e Extensão Rural -
EMATER, ou mesmo, pesquisas na Internet.
6.1.4 - Elaborar Plano de Ação
Sanadas as dúvidas iniciais, há que se elaborar um Plano de Ação, que deverá contemplar os estudos a serem realizados
durante os levantamentos de escritório e de campo da etapa seguinte.
6.2 - Durante
Durante os estudos, devemos fazer um check-list de todas as variáveis técnicas e ambientais que envolvem as atividades
agropecuárias. Entre elas, citamos:
6.2.1 - SOLO
O solo é o palco das ações agropecuárias e onde, geralmente, ocorrem as maiores agressões ambientais, sejam de origem
antrópica ou dos animais de criação. A maior delas é a erosão, em geral causada pelo desmatamento, falta de cobertura do
solo e práticas agrícolas mal conduzidas (como o plantio morro-abaixo, p.ex.). A cobertura vegetal do solo é a maior garantia
do efeito danoso do impacto das gotas de chuva e do escorrimento superficial, que provoca erosão e assoreamento; uma
prática agrícola muito recomendada para isso é a cobertura-morta (disposição na superfície de restos vegetais da colheita
anterior). Os tratos conservacionistas que o agricultor possa dispensar ao solo agricultado são fundamentais para a sua
conservação, com destaque para as curvas de nível, terraceamento, drenagem e combate às voçorocas.
6.2.2 - ÁGUA
Dois aspectos relacionados à água sobressaem nos estudos de Gestão Rural: o da quantidade a ser utilizada na propriedade
e a poluição dos mananciais disponíveis. Do volume retirado dos mananciais, a grosso modo, 70% destinam-se à Agricultura
(principalmente irrigação), 20% vão para as Indústrias e apenas 10% servirão para atender às necessidades da População.
Assim, a quantidade de água usada na zona rural tem um peso considerável na demanda por novas fontes e precisa ser
minimizada. Por outro lado, a carência de redes públicas de esgotos, de estações de tratamento, contrastando com a enorme
quantidade de animais (principalmente bois, porcos e galinhas) cujas fezes são lançadas nos córregos sem qualquer tipo de
tratamento, contribuem para a poluição das águas de superfície e subterrâneas.
6.2.3 - AR
A maior agressão à Natureza na zona rural relacionada à poluição do ar, diz respeito às queimadas. Seja das matas virgens
para a abertura de novas áreas de criação/plantação, como pelo costume de por fogo nos vegetais para renovação das
pastagens e colheita da cana-de-açúcar. Além da fuligem, que provoca a emissão de CO2 e problemas respiratórios, as
queimadas prejudicam o solo, a visibilidade (acidentes de carro e de avião são freqüentes) e até a interrupção de energia
elétrica. Outros, são o mercúrio dos garimpos e as nuvens de agrotóxicos levadas pelas correntes aéreas.
6.2.4 - PLANTAS
O manuseio das culturas agride o meio ambiente quando o agricultor se utiliza de agrotóxicos e adubos ou quando lança
nos córregos o sub-produto da atividade sucro-alcooeira: o vinhoto. Os agrotóxicos são aplicados, muitas vezes, sem os
devidos cuidados ambientais e em doses exageradas, contaminando o solo, o homem e os mananciais. Os adubos em
excesso também alteram a química e a biologia do solo e enriquecem as águas com nitrogênio (N) e fósforo (P), causando
a sua eutroficação. O vinhoto originado do processamento industrial da cana-de-açúcar, é um dos maiores poluentes
conhecidos. Costuma ser lançado ao solo, como adubo, mas causa grande prejuízo à fauna aquática (morte de peixes),
por roubar o oxigênio dissolvido na água.
6.2.5 - ANIMAIS
A pecuária tem sido apontada, recentemente, como uma grande vilã nos agravos ao meio ambiente. Veja porque. Comparado
com o homem, é considerável o volume de fezes produzido por animais de grande porte, como os bois, cavalos e assemelhados.
Suínos e aves, nem tanto mas, devido ao seu elevadíssimo número, acabam tendo grande repercussão. Essas fezes, via de
regra, são lançadas no solo e escorrem para os cursos d´água sem nenhum tipo de tratamento, poluindo os mananciais. Estudos
recentes conduzidos em países desenvolvidos, revelaram que o arroto do boi, por força da fermentação estomacal, é rico em
gás metano (CH4), um dos maiores vilões do efeito-estufa e cerca de 21 vezes mais perigoso do que o gás dióxido de carbono
(CO2). O simples pisoteio das manadas bovinas é suficiente para compactar o solo, dificultando o enraizamento e provocando
a erosão.
6.2.6 - BIOMAS
Uma das maiores ameaças provocadas pela expansão atual das atividades agropecuárias, diz respeito ao desmatamento e à
degradação dos principais biomas brasileiros, com destaque para a Floresta Amazônica. Desse modo, durante os estudos
ambientais nas propriedades rurais, uma das maiores preocupações dos Gestores Ambientais é medir e preservar a possível área
ocupada pelo bioma que ali se encontrar. A conservação desses biomas é fundamental para a manutenção da biodiversidade.
6.2.7 - INFRA-ESTRUTURA
A verificação da necessidade, da existência e da conservação da infra-estrutura parcelar é muito importante para a Gestão
Ambiental Rural. Dentre essas, destacam-se, as estradas vicinais, os canais e drenos e o saneamento básico.
6.3 - Ações
Realizados os estudos básicos sobre as atividades agropecuárias que possam estar degradando o meio ambiente, cumpre ao
Gestor Ambiental sugerir as ações que possam prevenir danos e corrigir distorções. Entre elas, destacam-se:
6.3.1 - PREVENTIVAS
O preparo adequado do solo é a prática agrícola mais efetiva para evitar erosão, conservar a umidade e poupar energia na
zona rural. Isso envolve a aração com o implemento adequado, na profundidade correta e quando o solo se apresentar com a
umidade certa. Outras práticas, como a construção de terraços; a sistematização quando se cogitar dos métodos de irrigação
por superfície; a drenagem de áreas alagadas; etc, também são fundamentais.
O bom manejo da água é outra medida preventiva muito importante, pois evitará desperdício, empobrecimento do solo (lixiviação),
economia de energia (no bombeamento) e menor gasto com material. No caso da irrigação, p.ex., sempre que possível, dar
preferência aos métodos localizados, como micro-aspersão e gotejamento.
As práticas corretas de plantio são uma terceira ação preventiva dos danos ao meio ambiente. Envolvem o plantio em nível
(morro-abaixo, nunca) e a cobertura-morta (restos vegetais sobre o terreno), entre outras.
6.3.2 - CORRETIVAS
Sempre que as ações preventivas não puderem ser aplicadas, as corretivas devem mitigar o problema. Algumas delas são:
a) RAD (recuperação de áreas degradadas);
b) Reflorestamento (replantio da área com espécies nativas ou comerciais);
c) Combate às voçorocas (canais profundos abertos pelas enxurradas); e
d) Calagem (aplicação de calcário para corrigir a acidez do solo).
6.4 - Revisão
Todo planejamento exige que, findo o processo, se avaliem os resultados. Assim, essa revisão pode constar das seguintes
tarefas:
6.4.1 - Observar os resultados: aumentou a produção ? diminuiu a poluição ? por que isso ocorreu (ou não ocorreu) ? o que
foi feito de errado ?
6.4.2 - Comparar índices. Esta é outra tarefa de revisão, posterior às ações, que precisa ser feita, principalmente no que se
refere à diminuição dos indicadores de poluição.
6.4.3 - Replanejar. As etapas anteriores (resultados e índices) permitem ao Gestor Ambiental replanejar as ações, para que
atinjam os resultados que delas se esperam. É o que se chama de feed-back ou retro-alimentação.